Neste episódio do podcast "Caverna de Hekate" discuto um pouco sobre três textos antigos bastante importantes para entendermos melhor sobre a deusa. São eles: Hinos Órficos, Teogonia de Hesíodo e Hinos Homéricos.
Hino Órfico à Hekate
Os hinos órficos são uma coletânea de 87 curtos poemas religiosos escritos entre o final do período helenístico (terceiro ou segundo séculos A.C.) ou no início do período romano (primeiro ou segundo séculos D.C.).
São baseados nas crenças do Orfismo, um culto misterioso ou filosofia religiosa que reivindicou descender dos ensinamentos do herói mítico Orfeu.
A tradução para o inglês considerada mais próxima ao significado original foi feita por Athanassakis em 1977. Porém, uma tradução mais "poética" foi feita por Thomas Taylor em 1792.
Na verdade, o Hino Órfico à Hekate é a parte do Hino Órfico às Musas, sendo o primeiro hino órfico dentre os 87 hinos, considerado número 0, o que é bastante significativo.
Outros hinos que se relacionam com Hekate:
1 - Para Prothyraea (epíteto de Hekate, significa "antes do portal").
O hino órfico de Prothyraea não usa explicitamente o nome de Hekate, mas carrega muitas de suas características, e usa os nomes de Diana e Eileithyia, que eram combinados/sincretizados com Hekate.
Translation by Apostolos N. Athanassakis:
Hekate Einodia, Trioditis, lovely dame, of earthly, watery, and celestial frame,
Sepulchral, in a saffron veil arrayed, pleased with dark ghosts that wander through the shade;
Perseis, solitary goddess, hail! The world’s key-bearer, never doomed to fail;
in stags rejoicing, huntress, nightly seen, and drawn by bulls, unconquerable queen;
Leader, Nymphe, nurse, on mountains wandering,
Hear the suppliants who with holy rites thy power revere, and to the herdsman with a favouring mind draw near.
Translation by Thomas Taylor:
I call Einodian Hecate, lovely dame, of earthly, wat’ry, and celestial frame,
Sepulchral, in a saffron veil array’d, leas’d with dark ghosts that wander thro’ the shade;
Persian, unconquerable huntress hail! The world’s key-bearer never doom’d to fail
On the rough rock to wander thee delights, leader and nurse be present to our rites
Propitious grant our just desires success, accept our homage, and the incense bless.
Tradução em português publicada:
SERRA, Ordep. Hinos Órficos: Perfumes. Introdução, tradução, comentário e notas de Ordep Serra. São Paulo: Odysseus Editora, 2015. 768 p.
Tradução de Rafael Brunhara (Reconstrucionismo Helênico no Brasil):
Enódia Hécate celebro, Trívia, amável,
celeste, terrestre e marinha, de cróceo véu,
tumular, celebrando baqueus entre almas de mortos,
Filha de Perses, amiga do ermo, que se ufana com cervos,
noturnal, protetora dos cães, rainha inflexível, (5)
do frêmito feral, sem armas, de forma incombatível,
pastora de touros, soberana detentora das chaves de todo o cosmo,
hegêmone, ninfa, nutriz de jovens, andarilha das montanhas.
Suplico, donzela, que compareças aos consagrados ritos,
benfazeja ao boiadeiro e sempre com um grato coração. (10)
Tradução de Alexandra (Reconstrucionismo Helênico no Brasil):
Hécate Einodia, Trioditis [Trivia], amável dama,
da estrutura terrestre, aquática e celestial,
sepucral, em um véu de açafrão vestida,
satisfeita com fantasmas escuros que vagueiam pelas sombras;
Perséia, deusa solitária, saúdo-te!
Portadora da chave do mundo, nunca condenada a falhar;
em cervos rejubila-se, caçadora, vista noturnamente,
e arrastada por touros, inconquistável rainha;
Líder, Ninfa, enfermeira, a que vaga nas montanhas,
ouça os suplicantes que com ritos sagrados teu poder veneram,
e arraste-se para perto do vaqueiro com uma mente favorável.
Tradução de Alexandra (Reconstrucionismo Helênico no Brasil):
À Hécate dos três caminhos / e encruzilhadas eu canto;
No céu, na terra e no mar, / de açafrão é seu manto.
Nas tumbas celebrando Baco, / se une às almas dos mortos;
Filha de Perses, solitária, / ela se delicia em cervos.
Irresistível rainha, / à noite ela os cães assiste;
Em grito às feras, desarmada, / a ela ninguém resiste.
Rainha e senhora do mundo, / de touro é sua tiara;
Líder das chaves, cuidadora, / pelas montanhas ela caça.
Seja presente, ó donzela, / em prece aos sagrados ritos;
Ao devoto sê propícia, / ó sempre alegre espírito.
Orphic Hymn to the Goddess Prothyraea (Translation by Thomas Taylor):
The Fumigation from Storax.
O venerable goddess, hear my pray'r, for labour pains are thy peculiar care;
In thee, when stretch'd upon the bed of grief, the sex as in a mirror view relief.
Guard of the race, endued with gentle mind, to helpless youth, benevolent and kind;
Benignant nourisher; great Nature's key belongs to no divinity but thee.
Thou dwell'st with all immanifest to sight, and solemn festivals are thy delight.
Thine is the talk to loose the virgin's zone, and thou in ev'ry work art seen and known.
With births you sympathize, tho' pleas'd to see the numerous offspring of fertility;
When rack'd with nature's pangs and sore distress'd, the sex invoke thee, as the soul's sure rest;
For thou alone can'st give relief to pain, which art attempts to ease, but tries in vain;
Assisting goddess [Eileithyia], venerable pow'r, who bring'st relief in labour's dreadful hour;
Hear, blessed Dian [Artemis], and accept my pray'r, and make the infant race thy constant care.
Versões cantadas:
Em grego:
Versão cantada por Alexandra com melodia de Melissa G. do Reconstrucionismo Helênico no Brasil: https://www.4shared.com/mp3/6nOLTQrMce/hinoorficoahecate-grego.html
Versão com melodia por Melissa: https://www.youtube.com/watch?v=Qi-f-_tcHoE
Em português:
Versão traduzida e cantada por Alexandra com melodia de Melissa G. do Reconstrucionismo Helênico no Brasil:
https://www.4shared.com/mp3/fesmqvlpba/hinoorficoahecate-portugues.html
https://www.4shared.com/mp3/fesmqvlpba/hinoorficoahecate-portugues.html
Em inglês:
Versão com melodia por Melissa: https://www.youtube.com/watch?v=LAIgKP-bC_A
Referências e materiais complementares:
Hino da Teogonia de Hesíodo
Teogonia é um poema mitológico composto por 1022 versos escrito por Hesíodo no século VIII a.C., no qual o narrador é o próprio poeta. Hesíodo, juntamente com Homero, que viveu na mesma epóca, eram os poetas mais respeitados na Grécia antiga e um dos únicos poemas dessa época que chegaram à nós nos dias de hoje. A Teogonia descreve a origem e genealogia dos deuses. A palavra Teonogia em grego significa theos, deus + gonia, nascimento.
Translation by Evelyn-White (1914):
HYMN TO HECATE
[410] And she conceived and bare Hecate whom Zeus the son of Cronos honoured above all. He gave her splendid gifts, to have a share of the earth and the unfruitful sea. She received honour also in starry heaven, and is honoured exceedingly by the deathless gods. For to this day, whenever any one of men on earth offers rich sacrifices and prays for favour according to custom, he calls upon Hecate. Great honour comes full easily to him whose prayers the goddess receives favourably, and she bestows wealth upon him; for the power surely is with her. For as many as were born of Earth and Ocean amongst all these she has her due portion. The son of Cronos did her no wrong nor took anything away of all that was her portion among the former Titan gods: but she holds, as the division was at the first from the beginning, privilege both in earth, and in heaven, and in sea. Also, because she is an only child, the goddess receives not less honour, but much more still, for Zeus honours her. Whom she will she greatly aids and advances: she sits by worshipful kings in judgement, and in the assembly whom she will is distinguished among the people. And when men arm themselves for the battle that destroys men, then the goddess is at hand to give victory and grant glory readily to whom she will. Good is she also when men contend at the games, for there too the goddess is with them and profits them: and he who by might and strength gets the victory wins the rich prize easily with joy, and brings glory to his parents. And she is good to stand by horsemen, whom she will: and to those whose business is in the grey discomfortable sea, and who pray to Hecate and the loud-crashing Earth-Shaker, easily the glorious goddess gives great catch, and easily she takes it away as soon as seen, if so she will. She is good in the byre with Hermes to increase the stock. The droves of kine and wide herds of goats and flocks of fleecy sheep, if she will, she increases from a few, or makes many to be less. So, then. albeit her mother's only child,17 she is honoured amongst all the deathless gods. And the son of Cronos made her a nurse of the young who after that day saw with their eyes the light of all-seeing Dawn. So from the beginning she is a nurse of the young, and these are her honours.
Tradução de Jaa Torrano (3ª edição, 1995):
HINO A HÉCATE
Febe entrou no amoroso leito de Coios
e fecundou a Deusa o Deus em amor,
ela gerou Leto de negro véu, a sempre doce,
boa aos homens e aos Deuses imortais,
doce dês o começo, a mais suave no Olimpo.
Gerou Astéria de propício nome, que Perses
conduziu um dia a seu palácio e desposou,
e fecundada pariu Hécate a quem mais
Zeus Cronida honrou e concedeu esplêndidos dons,
ter parte na terra e no mar infecundo.
Ela também do Céu constelado partilhou a honra
e é muito honrada entre os Deuses imortais.
Hoje ainda, se algum homem sobre a terra
com belos sacrifícios conforme os ritos propicia
e invoca Hécate, muita honra o acompanha
facilmente, a quem a Deusa propensa acolhe a prece;
e torna-o opulento, porque ela tem força.
De quantos nasceram da Terra e do Céu
e receberam honra, de todos obteve um lote;
nem o Cronida violou nem a despojou
do que recebeu entre os antigos Deuses Titãs,
e ela tem como primeiro no começo houve a partilha.
Nem porque filha única menos partilhou de honra
e de privilégio na terra e no céu e no mar
mas ainda mais, porque honra-a Zeus.
A quem quer, grandemente dá auxílio e ajuda,
no tribunal senta-se junto aos reis venerandos,
na assembléia entre o povo distingue a quem quer,
e quando se armam para o combate homicida
os homens, aí a Deusa assiste a quem quer
e propícia concede vitória e oferece-lhe glória.
Diligente quando os homens lutam nos jogos
aí também a Deusa lhe dá auxílio e ajuda,
e vencendo pela força e vigor, leva belo prêmio
facilmente, com alegria, e aos pais dá a glória.
Diligente entre os cavaleiros assiste a quem quer,
e aos que lavram o mar de ínvios caminhos
e suplicam a Hécate e ao troante Treme-terra,
fácil a gloriosa Deusa concede muita pesca
ou surge e arranca-a, se o quer no seu ânimo.
Diligente no estábulo com Hermes aumenta
o rebanho de bois e a larga tropa de cabras
e a de ovelhas lanosas, se o quer no seu ânimo,
de poucos avoluma-os e de muitos faz menores.
Assim, apesar de ser a única filha de sua mãe,
entre imortais é honrada com todos os privilégios.
O Cronida a fez nutriz de jovens que depois dela
com os olhos viram a luz da multividente Aurora.
Assim dês o começo é nutriz de jovens e estas as honras.
Referências e materiais complementares:
- Theoi.com
- Livro Teogonia em português (Jaa Torrano)
- Entrevista sobre Teogonia com Jaa Torrano
Hino Homérico
Os hinos homéricos são uma coleção de 33 poemas gregos. As datas de publicação e autores são difíceis de definir, porém o hino que fala sobre Hekate, chamado "Hino à Deméter", tem a autoria de Pamphos (poeta de Athena). Mas no geral, a autoria dos poemas é anônima, tendo origem helênica ou romana e são datados por volta de 700 a 600 antes de Cristo.
Meu resumo sobre o rapto de Perséfone:
Perséfone (até então chamada Kore) estava colhendo flores, quando de repente a terra se abre e Hades a rapta contra sua vontade. Ela grita, mas nem os deuses e nem os humanos ouvem, apenas Hekate a ouve de sua gruta, e Hélios (Sol). Deméter fica desesperada procurando pela filha e lança um pássaro para procurá-la, mas ninguém sabe o que aconteceu. Após 9 dias de procura sem resultado, Hekate vai à Demeter no 10º dia, portando suas tochas. Hekate diz que ouviu os gritos de Perséfone, mas não a viu:
"Dona Deméter, que guia as sazões, donatária de luz,
Quem dentre os deuses celestes ou dentre os humanos mortais,
Rapta Perséfone e causa-te dor para o teu coração?
Voz eu ouvi, mas não pude contudo enxergar com os olhos
Quem o seria. De pronto, professo-te tudo sem erro."
Junto com Hekate, Demeter vai até Hélios, para saber se ele viu quem raptou Perséfone. Hélios diz que Zeus concedeu Perséfone como esposa para Hades (seu irmão). Demeter fica bastante deprimida, não fala, não sorri, não come e nem bebe, de tantas saudades da filha. Por conta disso, a terra fica infértil e os homens sofrem. Sem ter suas sementes germinadas, os homens fazem sacrifícios à Zeus, mas ele continuava inflexível, até que pediu que chamassem Demeter. Demeter não queria ir, pois jurou nunca retornar ao Olimpo enquanto não pudesse ver sua filha novamente. Zeus, sabendo disso, pede para que Hermes vá até o Érebos (submundo) conversar com Hades. Chegando lá, Hermes encontra Hades e Perséfone sentados, e diz:
"Hades de negros cabelos, reinante entre os já perecidos,
Zeus pai mandou-me guiar para fora Perséfone augusta
Do Érebo para com eles, a fim de que a mãe, vendo a moça
Com olhos próprios, refreie o rancor e sua cólera horrível
Contra os eternos, pois ela intenciona um ingente trabalho:
Arruinar a impotente família dos homens terrestres
Ao ocultar as sementes na terra, privando das honras
Os imortais. Ela tem um terrível rancor, nem aos deuses
Junta-se, mas no interior de seu templo fragrante, apartada,
Senta-se enquanto retém a cidade rochosa de Elêusis."
Após ouvir isso, Hades pede para que Perséfone atenda o pedido e vá encontrar sua mãe. Ele promete que ela será a rainha do submundo ao voltar, e Perséfone sorri. Hades dá sementes de romã para ela e pede para que as coma em segredo. Perséfone é então levada até Demeter e as duas ficam felizes com o reencontro. Porém, depois da alegria inicial, Demeter pergunta se Perséfone comeu algo lá, pois se comeu, terá que ficar 1/3 do ano no submundo e 2/3 na terra. Perséfone fala que Hades forçou-a a comer as sementes de romã. Também conta à mãe sobre seu rapto. As duas passam um dia juntas, quando ao final do dia, Hekate se aproxima. Hekate abraça Perséfone, já que durante o período que Perséfone esteve no submundo, Hekate foi sua guia e companheira. Logo vêm a mensagem de Zeus de que Perséfone irá passar uma 1/3 do ano no submundo e 2/3 do ano na Terra, gerando assim as estações do ano.
Translation by Evelyn-White (1914):
HYMN II. TO DEMETER
[1] I begin to sing of rich-haired Demeter, awful goddess -- of her and her trim-ankled daughter whom Aidoneus rapt away, given to him by all-seeing Zeus the loud-thunderer.
[4] Apart from Demeter, lady of the golden sword and glorious fruits, she was playing with the deep-bosomed daughters of Oceanus and gathering flowers over a soft meadow, roses and crocuses and beautiful violets, irises also and hyacinths and the narcissus, which Earth made to grow at the will of Zeus and to please the Host of Many, to be a snare for the bloom-like girl -- a marvellous, radiant flower. It was a thing of awe whether for deathless gods or mortal men to see: from its root grew a hundred blooms and is smelled most sweetly, so that all wide heaven above and the whole earth and the sea's salt swell laughed for joy. And the girl was amazed and reached out with both hands to take the lovely toy; but the wide-pathed earth yawned there in the plain of Nysa, and the lord, Host of Many, with his immortal horses sprang out upon her -- the Son of Cronos, He who has many names.5
[19] He caught her up reluctant on his golden car and bare her away lamenting. Then she cried out shrilly with her voice, calling upon her father, the Son of Cronos, who is most high and excellent. But no one, either of the deathless gods or of mortal men, heard her voice, nor yet the olive-trees bearing rich fruit: only tender-hearted Hecate, bright-coiffed, the daughter of Persaeus, heard the girl from her cave, and the lord Helios, Hyperion's bright son, as she cried to her father, the Son of Cronos. But he was sitting aloof, apart from the gods, in his temple where many pray, and receiving sweet offerings from mortal men. So he, that Son of Cronos, of many names, who is Ruler of Many and Host of Many, was bearing her away by leave of Zeus on his immortal chariot -- his own brother's child and all unwilling.
[33] And so long as she, the goddess, yet beheld earth and starry heaven and the strong-flowing sea where fishes shoal, and the rays of the sun, and still hoped to see her dear mother and the tribes of the eternal gods, so long hope calmed her great heart for all her trouble ((lacuna)) . . . and the heights of the mountains and the depths of the sea rang with her immortal voice: and her queenly mother heard her.
[40] Bitter pain seized her heart, and she rent the covering upon her divine hair with her dear hands: her dark cloak she cast down from both her shoulders and sped, like a wild-bird, over the firm land and yielding sea, seeking her child. But no one would tell her the truth, neither god nor mortal men; and of the birds of omen none came with true news for her. Then for nine days queenly Deo wandered over the earth with flaming torches in her hands, so grieved that she never tasted ambrosia and the sweet draught of nectar, nor sprinkled her body with water. But when the tenth enlightening dawn had come, Hecate, with a torch in her hands, met her, and spoke to her and told her news: "Queenly Demeter, bringer of seasons and giver of good gifts, what god of heaven or what mortal man has rapt away Persephone and pierced with sorrow your dear heart? For I heard her voice, yet saw not with my eyes who it was. But I tell you truly and shortly all I know."
[59] So, then, said Hecate. And the daughter of rich-haired Rhea answered her not, but sped swiftly with her, holding flaming torches in her hands. So they came to Helios, who is watchman of both gods and men, and stood in front of his horses: and the bright goddess enquired of him: "Helios, do you at least regard me, goddess as I am, if ever by word or deed of mine I have cheered your heart and spirit. Through the fruitless air I heard the thrilling cry of my daughter whom I bare, sweet scion of my body and lovely in form, as of one seized violently; though with my eyes I saw nothing. But you -- for with your beams you look down from the bright upper air Over all the earth and sea -- tell me truly of my dear child, if you have seen her anywhere, what god or mortal man has violently seized her against her will and mine, and so made off."
[74] So said she. And the Son of Hyperion answered her: "Queen Demeter, daughter of rich-haired Rhea, I will tell you the truth; for I greatly reverence and pity you in your grief for your trim-ankled daughter. None other of the deathless gods is to blame, but only cloud-gathering Zeus who gave her to Hades, her father's brother, to be called his buxom wife. And Hades seized her and took her loudly crying in his chariot down to his realm of mist and gloom. Yet, goddess, cease your loud lament and keep not vain anger unrelentingly: Aidoneus, the Ruler of Many, is no unfitting husband among the deathless gods for your child, being your own brother and born of the same stock: also, for honour, he has that third share which he received when division was made at the first, and is appointed lord of those among whom he dwells." So he spake, and called to his horses: and at his chiding they quickly whirled the swift chariot along, like long-winged birds.
[90] But grief yet more terrible and savage came into the heart of Demeter, and thereafter she was so angered with the dark-clouded Son of Cronos that she avoided the gathering of the gods and high Olympus, and went to the towns and rich fields of men, disfiguring her form a long while. And no one of men or deep-bosomed women knew her when they saw her, until she came to the house of wise Celeus who then was lord of fragrant Eleusis. Vexed in her dear heart, she sat near the wayside by the Maiden Well, from which the women of the place were used to draw water, in a shady place over which grew an olive shrub. And she was like an ancient woman who is cut off from childbearing and the gifts of garland-loving Aphrodite, like the nurses of king's children who deal justice, or like the house-keepers in their echoing halls. There the daughters of Celeus, son of Eleusis, saw her, as they were coming for easy-drawn water, to carry it in pitchers of bronze to their dear father's house: four were they and like goddesses in the flower of their girlhood, Callidice and Cleisidice and lovely Demo and Callithoe who was the eldest of them all. They knew her not, -- for the gods are not easily discerned by mortals -- but standing near by her spoke winged words:
[113] "Old mother, whence and who are you of folk born long ago? Why are you gone away from the city and do not draw near the houses? For there in the shady halls are women of just such age as you, and others younger; and they would welcome you both by word and by deed."
[118] Thus they said. And she, that queen among goddesses answered them saying: "Hail, dear children, whosoever you are of woman-kind. I will tell you my story; for it is not unseemly that I should tell you truly what you ask. Doso is my name, for my stately mother gave it me. And now I am come from Crete over the sea's wide back, -- not willingly; but pirates brought be thence by force of strength against my liking. Afterwards they put in with their swift craft to Thoricus, and there the women landed on the shore in full throng and the men likewise, and they began to make ready a meal by the stern-cables of the ship. But my heart craved not pleasant food, and I fled secretly across the dark country and escaped by masters, that they should not take me unpurchased across the sea, there to win a price for me. And so I wandered and am come here: and I know not at all what land this is or what people are in it. But may all those who dwell on Olympus give you husbands and birth of children as parents desire, so you take pity on me, maidens, and show me this clearly that I may learn, dear children, to the house of what man and woman I may go, to work for them cheerfully at such tasks as belong to a woman of my age. Well could I nurse a new born child, holding him in my arms, or keep house, or spread my masters' bed in a recess of the well-built chamber, or teach the women their work."
[145] So said the goddess. And straightway the unwed maiden Callidice, goodliest in form of the daughters of Celeus, answered her and said: "Mother, what the gods send us, we mortals bear perforce, although we suffer; for they are much stronger than we. But now I will teach you clearly, telling you the names of men who have great power and honour here and are chief among the people, guarding our city's coif of towers by their wisdom and true judgements: there is wise Triptolemus and Dioclus and Polyxeinus and blameless Eumolpus and Dolichus and our own brave father. All these have wives who manage in the house, and no one of them, so soon as she has seen you, would dishonour you and turn you from the house, but they will welcome you; for indeed you are godlike. But if you will, stay here; and we will go to our father's house and tell Metaneira, our deep-bosomed mother, all this matter fully, that she may bid you rather come to our home than search after the houses of others. She has an only son, late-born, who is being nursed in our well-built house, a child of many prayers and welcome: if you could bring him up until he reached the full measure of youth, any one of womankind who should see you would straightway envy you, such gifts would our mother give for his upbringing."
[169] So she spake: and the goddess bowed her head in assent. And they filled their shining vessels with water and carried them off rejoicing. Quickly they came to their father's great house and straightway told their mother according as they had heard and seen. Then she bade them go with all speed and invite the stranger to come for a measureless hire. As hinds or heifers in spring time, when sated with pasture, bound about a meadow, so they, holding up the folds of their lovely garments, darted down the hollow path, and their hair like a crocus flower streamed about their shoulders. And they found the good goddess near the wayside where they had left her before, and led her to the house of their dear father. And she walked behind, distressed in her dear heart, with her head veiled and wearing a dark cloak which waved about the slender feet of the goddess.
[184] Soon they came to the house of heaven-nurtured Celeus and went through the portico to where their queenly mother sat by a pillar of the close-fitted roof, holding her son, a tender scion, in her bosom. And the girls ran to her. But the goddess walked to the threshold: and her head reached the roof and she filled the doorway with a heavenly radiance. Then awe and reverence and pale fear took hold of Metaneira, and she rose up from her couch before Demeter, and bade her be seated. But Demeter, bringer of seasons and giver of perfect gifts, would not sit upon the bright couch, but stayed silent with lovely eyes cast down until careful Iambe placed a jointed seat for her and threw over it a silvery fleece. Then she sat down and held her veil in her hands before her face. A long time she sat upon the stool6 without speaking because of her sorrow, and greeted no one by word or by sign, but rested, never smiling, and tasting neither food nor drink, because she pined with longing for her deep-bosomed daughter, until careful Iambe -- who pleased her moods in aftertime also -- moved the holy lady with many a quip and jest to smile and laugh and cheer her heart. Then Metaneira filled a cup with sweet wine and offered it to her; but she refused it, for she said it was not lawful for her to drink red wine, but bade them mix meal and water with soft mint and give her to drink. And Metaneira mixed the draught and gave it to the goddess as she bade. So the great queen Deo received it to observe the sacrament7 ((lacuna)) . . .
[212] And of them all, well-girded Metaneira first began to speak: "Hail, lady! For I think you are not meanly but nobly born; truly dignity and grace are conspicuous upon your eyes as in the eyes of kings that deal justice. Yet we mortals bear perforce what the gods send us, though we be grieved; for a yoke is set upon our necks. But now, since you are come here, you shall have what I can bestow: and nurse me this child whom the gods gave me in my old age and beyond my hope, a son much prayed for. If you should bring him up until he reach the full measure of youth, any one of womankind that sees you will straightway envy you, so great reward would I give for his upbringing."
[224] Then rich-haired Demeter answered her: "And to you, also, lady, all hail, and may the gods give you good! Gladly will I take the boy to my breast, as you bid me, and will nurse him. Never, I ween, through any heedlessness of his nurse shall witchcraft hurt him nor yet the Undercutter8: for I know a charm far stronger than the Woodcutter, and I know an excellent safeguard against woeful witchcraft."
[231] When she had so spoken, she took the child in her fragrant bosom with her divine hands: and his mother was glad in her heart. So the goddess nursed in the palace Demophoon, wise Celeus' goodly son whom well-girded Metaneira bare. And the child grew like some immortal being, not fed with food nor nourished at the breast: for by day rich-crowned Demeter would anoint him with ambrosia as if he were the offspring of a god and breathe sweetly upon him as she held him in her bosom. But at night she would hide him like a brand in the heard of the fire, unknown to his dear parents. And it wrought great wonder in these that he grew beyond his age; for he was like the gods face to face. And she would have made him deathless and unageing, had not well-girded Metaneira in her heedlessness kept watch by night from her sweet-smelling chamber and spied. But she wailed and smote her two hips, because she feared for her son and was greatly distraught in her heart; so she lamented and uttered winged words: "Demophoon, my son, the strange woman buries you deep in fire and works grief and bitter sorrow for me."
[250] Thus she spoke, mourning. And the bright goddess, lovely-crowned Demeter, heard her, and was wroth with her. So with her divine hands she snatched from the fire the dear son whom Metaneira had born unhoped-for in the palace, and cast him from her to the ground; for she was terribly angry in her heart. Forthwith she said to well-girded Metaneira: "Witless are you mortals and dull to foresee your lot, whether of good or evil, that comes upon you. For now in your heedlessness you have wrought folly past healing; for -- be witness the oath of the gods, the relentless water of Styx -- I would have made your dear son deathless and unaging all his days and would have bestowed on him everlasting honour, but now he can in no way escape death and the fates. Yet shall unfailing honour always rest upon him, because he lay upon my knees and slept in my arms. But, as the years move round and when he is in his prime, the sons of the Eleusinians shall ever wage war and dread strife with one another continually. Lo! I am that Demeter who has share of honour and is the greatest help and cause of joy to the undying gods and mortal men. But now, let all the people build be a great temple and an altar below it and beneath the city and its sheer wall upon a rising hillock above Callichorus. And I myself will teach my rites, that hereafter you may reverently perform them and so win the favour of my heart."
[275] When she had so said, the goddess changed her stature and her looks, thrusting old age away from her: beauty spread round about her and a lovely fragrance was wafted from her sweet-smelling robes, and from the divine body of the goddess a light shone afar, while golden tresses spread down over her shoulders, so that the strong house was filled with brightness as with lightning. And so she went out from the palace.
[281] And straightway Metaneira's knees were loosed and she remained speechless for a long while and did not remember to take up her late-born son from the ground. But his sisters heard his pitiful wailing and sprang down from their well-spread beds: one of them took up the child in her arms and laid him in her bosom, while another revived the fire, and a third rushed with soft feet to bring their mother from her fragrant chamber. And they gathered about the struggling child and washed him, embracing him lovingly; but he was not comforted, because nurses and handmaids much less skilful were holding him now.
[292] All night long they sought to appease the glorious goddess, quaking with fear. But, as soon as dawn began to show, they told powerful Celeus all things without fail, as the lovely-crowned goddess Demeter charged them. So Celeus called the countless people to an assembly and bade them make a goodly temple for rich-haired Demeter and an altar upon the rising hillock. And they obeyed him right speedily and harkened to his voice, doing as he commanded. As for the child, he grew like an immortal being.
[301] Now when they had finished building and had drawn back from their toil, they went every man to his house. But golden-haired Demeter sat there apart from all the blessed gods and stayed, wasting with yearning for her deep-bosomed daughter. Then she caused a most dreadful and cruel year for mankind over the all-nourishing earth: the ground would not make the seed sprout, for rich-crowned Demeter kept it hid. In the fields the oxen drew many a curved plough in vain, and much white barley was cast upon the land without avail. So she would have destroyed the whole race of man with cruel famine and have robbed them who dwell on Olympus of their glorious right of gifts and sacrifices, had not Zeus perceived and marked this in his heart. First he sent golden-winged Iris to call rich-haired Demeter, lovely in form. So he commanded. And she obeyed the dark-clouded Son of Cronos, and sped with swift feet across the space between. She came to the stronghold of fragrant Eleusis, and there finding dark-cloaked Demeter in her temple, spake to her and uttered winged words: "Demeter, father Zeus, whose wisdom is everlasting, calls you to come join the tribes of the eternal gods: come therefore, and let not the message I bring from Zeus pass unobeyed."
[324] Thus said Iris imploring her. But Demeter's heart was not moved. Then again the father sent forth all the blessed and eternal gods besides: and they came, one after the other, and kept calling her and offering many very beautiful gifts and whatever right she might be pleased to choose among the deathless gods. Yet no one was able to persuade her mind and will, so wrath was she in her heart; but she stubbornly rejected all their words: for she vowed that she would never set foot on fragrant Olympus nor let fruit spring out of the ground, until she beheld with her eyes her own fair-faced daughter.
[334] Now when all-seeing Zeus the loud-thunderer heard this, he sent the Slayer of Argus whose wand is of gold to Erebus, so that having won over Hades with soft words, he might lead forth chaste Persephone to the light from the misty gloom to join the gods, and that her mother might see her with her eyes and cease from her anger. And Hermes obeyed, and leaving the house of Olympus, straightway sprang down with speed to the hidden places of the earth. And he found the lord Hades in his house seated upon a couch, and his shy mate with him, much reluctant, because she yearned for her mother. But she was afar off, brooding on her fell design because of the deeds of the blessed gods. And the strong Slayer of Argus drew near and said:
[347] "Dark-haired Hades, ruler over the departed, father Zeus bids me bring noble Persephone forth from Erebus unto the gods, that her mother may see her with her eyes and cease from her dread anger with the immortals; for now she plans an awful deed, to destroy the weakly tribes of earthborn men by keeping seed hidden beneath the earth, and so she makes an end of the honours of the undying gods. For she keeps fearful anger and does not consort with the gods, but sits aloof in her fragrant temple, dwelling in the rocky hold of Eleusis."
[357] So he said. And Aidoneus, ruler over the dead, smiled grimly and obeyed the behest of Zeus the king. For he straightway urged wise Persephone, saying: "Go now, Persephone, to your dark-robed mother, go, and feel kindly in your heart towards me: be not so exceedingly cast down; for I shall be no unfitting husband for you among the deathless gods, that am own brother to father Zeus. And while you are here, you shall rule all that lives and moves and shall have the greatest rights among the deathless gods: those who defraud you and do not appease your power with offerings, reverently performing rites and paying fit gifts, shall be punished for evermore."
[370] When he said this, wise Persephone was filled with joy and hastily sprang up for gladness. But he on his part secretly gave her sweet pomegranate seed to eat, taking care for himself that she might not remain continually with grave, dark-robed Demeter. Then Aidoneus the Ruler of Many openly got ready his deathless horses beneath the golden chariot. And she mounted on the chariot, and the strong Slayer of Argos took reins and whip in his dear hands and drove forth from the hall, the horses speeding readily. Swiftly they traversed their long course, and neither the sea nor river-waters nor grassy glens nor mountain-peaks checked the career of the immortal horses, but they clave the deep air above them as they went. And Hermes brought them to the place where rich-crowned Demeter was staying and checked them before her fragrant temple.
[384] And when Demeter saw them, she rushed forth as does a Maenad down some thick-wooded mountain, while Persephone on the other side, when she saw her mother's sweet eyes, left the chariot and horses, and leaped down to run to her, and falling upon her neck, embraced her. But while Demeter was still holding her dear child in her arms, her heart suddenly misgave her for some snare, so that she feared greatly and ceased fondling her daughter and asked of her at once: "My child, tell me, surely you have not tasted any food while you were below? Speak out and hide nothing, but let us both know. For if you have not, you shall come back from loathly Hades and live with me and your father, the dark-clouded Son of Cronos and be honoured by all the deathless gods; but if you have tasted food, you must go back again beneath the secret places of the earth, there to dwell a third part of the seasons every year: yet for the two parts you shall be with me and the other deathless gods. But when the earth shall bloom with the fragrant flowers of spring in every kind, then from the realm of darkness and gloom thou shalt come up once more to be a wonder for gods and mortal men. And now tell me how he rapt you away to the realm of darkness and gloom, and by what trick did the strong Host of Many beguile you?"
[405] Then beautiful Persephone answered her thus: "Mother, I will tell you all without error. When luck-bringing Hermes came, swift messenger from my father the Son of Cronos and the other Sons of Heaven, bidding me come back from Erebus that you might see me with your eyes and so cease from your anger and fearful wrath against the gods, I sprang up at once for joy; but he secretly put in my mouth sweet food, a pomegranate seed, and forced me to taste against my will. Also I will tell how he rapt me away by the deep plan of my father the Son of Cronos and carried me off beneath the depths of the earth, and will relate the whole matter as you ask. All we were playing in a lovely meadow, Leucippe9 and Phaeno and Electra and Ianthe, Melita also and Iache with Rhodea and Callirhoe and Melobosis and Tyche and Ocyrhoe, fair as a flower, Chryseis, Ianeira, Acaste and Admete and Rhodope and Pluto and charming Calypso; Styx too was there and Urania and lovely Galaxaura with Pallas who rouses battles and Artemis delighting in arrows: we were playing and gathering sweet flowers in our hands, soft crocuses mingled with irises and hyacinths, and rose-blooms and lilies, marvellous to see, and the narcissus which the wide earth caused to grow yellow as a crocus. That I plucked in my joy; but the earth parted beneath, and there the strong lord, the Host of Many, sprang forth and in his golden chariot he bore me away, all unwilling, beneath the earth: then I cried with a shrill cry. All this is true, sore though it grieves me to tell the tale."
[434] So did they turn, with hearts at one, greatly cheer each the other's soul and spirit with many an embrace: their heart had relief from their griefs while each took and gave back joyousness.
[438] Then bright-coiffed Hecate came near to them, and often did she embrace the daughter of holy Demeter: and from that time the lady Hecate was minister and companion to Persephone.
[441] And all-seeing Zeus sent a messenger to them, rich-haired Rhea, to bring dark-cloaked Demeter to join the families of the gods: and he promised to give her what right she should choose among the deathless gods and agreed that her daughter should go down for the third part of the circling year to darkness and gloom, but for the two parts should live with her mother and the other deathless gods. Thus he commanded. And the goddess did not disobey the message of Zeus; swiftly she rushed down from the peaks of Olympus and came to the plain of Rharus, rich, fertile corn-land once, but then in nowise fruitful, for it lay idle and utterly leafless, because the white grains was hidden by design of trim-ankled Demeter. But afterwards, as springtime waxed, it was soon to be waving with long ears of corn, and its rich furrows to be loaded with grain upon the ground, while others would already be bound in sheaves. There first she landed from the fruitless upper air: and glad were the goddesses to see each other and cheered in heart.
[459] Then bright-coiffed Rhea said to Demeter: "Come, my daughter; for far-seeing Zeus the loud-thunderer calls you to join the families of the gods, and has promised to give you what rights you please among the deathless gods, and has agreed that for a third part of the circling year your daughter shall go down to darkness and gloom, but for the two parts shall be with you and the other deathless gods: so has he declared it shall be and has bowed his head in token. But come, my child, obey, and be not too angry unrelentingly with the dark-clouded Son of Cronos; but rather increase forthwith for men the fruit that gives them life."
[470] So spake Rhea. And rich-crowned Demeter did not refuse but straightway made fruit to spring up from the rich lands, so that the whole wide earth was laden with leaves and flowers. Then she went, and to the kings who deal justice, Triptolemus and Diocles, the horse-driver, and to doughty Eumolpus and Celeus, leader of the people, she showed the conduct of her rites and taught them all her mysteries, to Triptolemus and Polyxeinus and Diocles also, -- awful mysteries which no one may in any way transgress or pry into or utter, for deep awe of the gods checks the voice. Happy is he among men upon earth who has seen these mysteries; but he who is uninitiate and who has no part in them, never has lot of like good things once he is dead, down in the darkness and gloom.
[483] But when the bright goddess had taught them all, they went to Olympus to the gathering of the other gods. And there they dwell beside Zeus who delights in thunder, awful and reverend goddesses. Right blessed is he among men on earth whom they freely love: soon they do send Plutus as guest to his great house, Plutus who gives wealth to mortal men.
[490] And now, queen of the land of sweet Eleusis and sea-girt Paros and rocky Antron, lady, giver of good gifts, bringer of seasons, queen Deo, be gracious, you and your daughter all beauteous Persephone, and for my song grant me heart-cheering substance. And now I will remember you and another song also.
Tradução de Leonardo B. Antunes (2015):
Canto Deméter, de belos cabelos, deidade solene,
Junto da filha de esguios tornozelos, a quem Edoneu
Arrebatou por presente de Zeus de ampla vista, troante,
Longe Deméter de espada dourada, de fruto brilhante,
Quando brincava entre as oceaninas, de bustos profundos,
De colher flores de rosa, açafrão e violetas bonitas,
Sobre um gramado macio, e de íris bem como jacinto,
E de narciso – num dolo de Gaia à garota florente
Dentro do plano de Zeus, alegrando o que tudo recebe –,
Maravilhoso e brilhante: um espanto de ver para todos,
Para os eternos divinos e para os humanos mortais.
Dele a partir das raízes cem brotos de flor despontavam.
Dúlcido odor exalava, tão doce que tudo, do céu
À vasta terra e até a onda salina do mar lhe sorriu.
Maravilhada, buscou alcançá-lo com ambas as mãos,
Belo ornamento. Porém a vastívia terra se abriu
Junto à planície de Nisa e o que tudo retém irrompeu
Com montaria imortal, o Cronida de múltiplos nomes.
Tendo-a tomado contrário à vontade, ao palácio dourado
Foi-se com ela em lamentos. Gritava com voz incessante
Súplica ao pai que de Crono nasceu, o mais alto e mais nobre.
Nenhum dos deuses eternos, nenhum dos humanos mortais
Pôde escutar sua voz, nem olivas de frutos brilhantes,
Mas a donzela nascida de Perses, de tenro pensar,
Hécate, do diadema esplendente, da gruta a escutou,
E Hélios também, o senhor que de Hipérion nasceu, reluzente,
Ouve o pedido da moça ao pai Crônida, mas apartado
Dos demais deuses estava, em seu templo onde muitos suplicam,
A receber oferendas venustas dos homens mortais.
Contra a vontade a levava (seguindo um alvitre de Zeus,
Pai da donzela, e irmão do que tudo retém e recebe)
Com imortal montaria o Cronida de múltiplos nomes.
Quanto ainda pôde mirar para terra e pro céu estrelado,
E para o mar de correntes possantes, repleto de peixes,
E para o brilho do sol, ela teve esperança de ver
A mãe zelosa e a família dos deuses eternossurgentes:
Tanto a esperança acalmava-lhe a mente sobeja na dor.
... E ressoaram os cumes dos montes e o fundo do mar
Junto da voz imortal: escutou-lhe sua mãe senhoril.
Dor aguçada assaltou-lhe no seu coração. Das madeixas
Ambrosiais, a mantilha rasgou com as mãos, em pedaços;
De ambos os ombros lançou para o chão o seu manto ciânico
E disparou como um pássaro ao longo da terra e das águas,
A procurar. Mas dizer a verdade não houve ninguém
Dentre os divinos nem dentre os humanos mortais que o quisesse,
Nem dentre as aves – nenhuma lhe foi mensageiro veraz.
Por nove dias depois pela terra, a senhora Deméter
Foi-se vagando com tochas acesas levadas às mãos.
Nem de ambrosia jamais nem de néctar, delícia potável,
Se alimentou, sofredora, nem água em seu corpo aspergiu.
Mas, quando a décima aurora chegou até ela, brilhante,
Hécate veio encontrá-la trazendo luzeiros nas mãos
E anunciando-lhe então proferiu a palavra e falou:
"Dona Deméter, que guia as sazões, donatária de luz,
Quem dentre os deuses celestes ou dentre os humanos mortais,
Rapta Perséfone e causa-te dor para o teu coração?
Voz eu ouvi, mas não pude contudo enxergar com os olhos
Quem o seria. De pronto, professo-te tudo sem erro."
Hécate assim lhe falou, mas não houve resposta em discurso
Vinda da filha de Reia, que subitamente com ela
Vai-se, com tochas acesas brilhando, portadas nas mãos.
A Hélios, chegaram, vigia dos deuses bem como dos homens.
Frente aos cavalos puseram-se e a deusa entre as deusas lhe disse:
"Hélios, ao menos, respeita-me, deusa que sou, se jamais
Minhas palavras ou feitos ao teu coração te aqueceram.
Moça eu gerei, um rebento tão doce, esplendente na forma.
Dela, pelo éter infértil, eu ouvi um gemido adensado
Como sofresse, porém com os olhos não pude mirá-la.
Tu, todavia, por tudo que existe na terra e no mar,
Do alto do éter divino perscrutas usando teus raios.
Diz-me sem falha: o querido rebento – se acaso tu viste –,
Quem, apartado de mim, agarrando em forçosa violência,
Foi que o levou, se um dos deuses ou um dos humanos mortais."
Disse-lhe assim. Em resposta o nascido de Hipérion falou-lhe:
"Filha de Reia, de belos cabelos, senhora Deméter,
Tu saberás, pois venero-te muito e de ti me apiedo,
Sôfrega pela menina de esguio tornozelo: não outro
Foi causador dentre eternos senão o nubícogo Zeus,
Que a concedeu para Hades chamá-la de esposa formosa;
Deu-a ao irmão, que, por vez, para o fundo do breu nevoento,
Rapta-a e a carrega em seu carro por mais que ela muito gritasse.
Cessa, contudo, divina, esse ingente gemido. Não deves
Ter tanta cólera em vão dessa forma. Não é um impróprio
Genro entre eternos aquele, Edoneu, o de múltiplos nomes:
É teu irmão; foi gerado em conjunto; também – quanto às honras
Que ele ganhou, quando em três a partilha foi feita de início –,
Entre os que vivem consigo, seu lote é ser rei sobre todos."
Tendo assim dito chamou os cavalos. Por sob ameaças,
Logo carregam o carro veloz quais alígeras aves.
Nela, vem dor mais terrível e infame no seu coração.
Pelo Cronida de nuvens escuras irada a tal ponto,
Ela apartou-se da grege divina e do Olimpo elevado
Indo às cidades dos homens e para seus fartos cultivos,
Branda em beleza por longo interstício. Ninguém dos varões
A distinguiu quando a viu, nem das damas de funda cintura,
Antes de que ela chegasse na casa do experto Celeu,
Que era senhor, nesse tempo, de Elêusis fragrante em incenso.
Com coração dolorido, sentou-se por perto da estrada,
Junto do poço da virgem, de que os cidadãos aduavam,
Num sombreado debaixo de onde cresciam olivas,
Assemelhada a uma velha vetusta, que da gestação
Já se gastou e dos dotes da amante de láurea Afrodite,
Da qualidade das amas de reis que ministram as leis
E governantas de infantes ao longo de ecoantes alcovas.
Viram-na as filhas do filho nascido de Elêusis, Celeu,
Vindo por água de fácil extração, que depois levariam
Dentro de jarras de bronze a caminho da casa paterna.
Quatro elas eram, quais deusas, ornadas na flor juvenil:
Bela Demó e Calídice, junto a Clesídice e ainda
Calitoé, que entre todas as outras nascera primeiro.
Não a souberam: os deuses são árduos de ver por mortais.
Pondo-se próximas dela, disseram palavras aladas:
"Quem és e donde, anciã, que nasceste entre os homens de outrora?
Qual a razão de partires da pólis, e nem das moradas
Te aproximares? Aqui há mulheres nas casas vultosas,
Velhas assim como tu, bem como outras mais jovens também.
Ambas teriam a ti por amiga em palavras e em atos."
Isso disseram. Então respondeu a senhora das deusas:
"Filhas queridas – quem quer que vós fordes em meio às mulheres –,
Eu vos saúdo e vos digo ademais que não é vergonhoso
Pronunciardes discursos dizendo palavras verazes.
Eu sou chamada Dosó. Deu-me o nome a senhora materna.
Vim logo agora de Creta no dorso comprido do mar,
Mesmo que não o quisesse, forçada em forçosa violência.
Homens ladinos levaram-me embora. Depois, em seguida,
Foram com rápida nau para Tórico. Lá, as mulheres
Desembarcaram em grupos, seguidas por eles,
E preparavam banquete do lado da proa da nau.
Mas coração não me aprouve o repasto gentil para mente.
Desembarcando em segredo, através da melânica terra,
Eu escapei dos meus mestres soberbos, que enfim não lucrassem
Com minha honra por me carregarem à venda no mar.
Vim para cá dessa forma, uma errante. Tampouco sabia
Qual era a terra e quem eram aqueles que aqui são nascidos.
Que vos concendam contudo os que fazem morada no Olimpo,
Todos, varões que vos sejam esposos, e dar luz a filhos,
Como desejam os pais: mas de mim tende pena, meninas.
Isso me estabelecei claramente, que assim eu o saiba,
Filhas queridas, zelosas, de quem é a casa a que chego?
De qual varão ou senhora? Que assim eu os sirva, zelosa,
Nos afazeres cabíveis a velhas mulheres fazerem.
Para um bebê neonato, levado em meus braços dobrados,
Belo cuidado daria e também manteria o palácio,
Esticaria os lençóis no interior das alcovas bem-feitas
Do meu senhor e os trabalhos iria ensinar às mulheres."
Disse a deidade. Depois, respondeu a virgínea donzela
Dita Calídice, que era a mais bela entre as filhas celeias:
"Mãe, os presentes dos deuses, por mais que soframos à força,
Nós suportamos, humanos, pois são bem mais fortes que nós.
Vou te dizer claramente isso tudo e informar-te por nome
Quais os varões a quem há um enorme poder nesta terra,
Eles que têm o respeito do povo e a mantilha da pólis
Salvam por meio do alvitre e da sua justiça escorreita:
Ambos Triptólemo de resoluta vontade e Diócles,
E Polixeno também junto do irreprovável Eumolpo,
Junto de Dólico bem como de nosso pai varonil.
Há para todos esposas que cuidam do lar nos palácios.
Dentre elas todas, não há quem iria à primeira das vistas,
Desestimando-te a forma, da casa por isso expulsar-te,
Mas, sim, irão receber-te, pois és claramente deiforme.
Se tu quiseres, espera, que iremos à casa paterna
Para informar nossa mãe, Metaneira de funda cintura,
Desses assuntos, de todos, a fim de que sejas chamada
À nossa casa, não tendo que uma outra morada buscar.
Ela possui um só filho, tardio, no palácio bem-feito,
Tardinascido, mas muito bem-vindo após múltiplas preces.
Se tu puderes criá-lo até ter a medida de jovem,
Mui facilmente qualquer das femíneas mulheres, ao ver-te,
Te invejaria: são dádivas tais que em criá-lo terias."
Disse-lhe assim. Assentiu por sua vez com o rosto. Luzentes
Baldes então tendo enchido com água, carregam, briosas.
Logo chegaram no enorme palácio paterno e contaram
Rápido à mãe o que viram e ouviram. Mais rápido ainda,
Vindo ordenou que a chamassem a fim de ter paga infinita.
Elas, quais cervos ou mesmo bezerros que na primavera
Vão saltitando num prado, aplacado o desejo com pasto,
Elas assim, segurando nas dobras das vestes amáveis,
Iam correndo por via deserta. Ao redor, os cabelos
Sobre seus ombros fluíam semelhos à flor do açafrão.
Próximo à estrada encontraram a deusa esplendente onde a haviam
Antes deixado. Depois para a casa do pai estimado
Foram à frente. Detrás com o seu coração dolorido,
Ela seguia com rosto abaixado. Ao redor, um vestido
Cor do oceano envolvia-lhe os pés delicados de deusa.
Logo a mansão de Celeu alcançaram, aluno de Zeus.
Foram adentro do pórtico até onde a mãe senhoril,
Junto à coluna do teto de firme feitura, sentava
Com um bebê neonato no colo. Acorreram-lhe as filhas.
Mas, quando pôs os seus pés na soleira, alcançou o batente
Com a cabeça e um divino esplendor preencheu os umbrais.
Por reverência, respeito e esverdeado temor foi tomada.
De seu assento se ergueu e ordenou que ela ali se sentasse.
Mas não Deméter que guia as sazões, donatária de luz:
Não desejou se assentar sobre o trono de aspecto brilhante,
Mas se mantinha silente com seus belos olhos baixados
Antes de Iambe, sabendo cuidados, dispôr para ela
Outra cadeira, do lado, e cobri-la com peles argênteas.
Lá se sentando, mantinha seguro nas mãos o seu véu.
Por muito tempo, sofrendo silente, quedou sobre o banco.
Nem por palavras saudava as pessoas tampouco por gestos,
Mas sem risada, mantendo o jejum, sem comer nem beber,
Ela minguava à saudade da filha de funda cintura,
Antes de Iambe, sabendo cuidados, por meio de troças
Muitas, fazendo piadas, mudar a solene senhora
Para se rir e sorrir e ter ânimo mais benfazejo.
(Ela mais tarde também, num porvir, agradou seus humores.)
Oferecia-lhe então Metaneira uma taça que enchera
Com vinho doce qual mel, mas não quis. Disse impróprio tomar
Vinho vermelho. Mandava que dessem cevada com água
Mistas, a fim de tomar com um toque gentil de poejo.
Feita a poção, ofertou-a conforme pedira, à deidade.
Tendo a aceitado por sacro costume, Deméter excelsa
... Principiou Metaneira de bela cintura a falar-lhe:
Salve, mulher! Eu não temo que vinda de maus genitores
Sejas, mas sim de excelentes, pois vê-se respeito em teus olhos
E gratidão, como se descendesses de reis julgadores.
Mas os presentes dos deuses, por mais que soframos à força,
Nós suportamos, humanos, pois tem-se o pescoço no jugo.
Mas como aqui tu chegaste, terás tudo quanto eu puder:
Cria meu filho, nascido tardio para além da esperança,
Este que os deuses mandaram, que é muito querido de mim.
Se tu puderes criá-lo até ter a medida de jovem,
Mui facilmente qualquer das femíneas mulheres, ao ver-te,
Te invejaria: são dádivas tais que em criá-lo terias."
Por sua vez, proferiu-lhe Deméter de bela coroa:
"Eu te saúdo, mulher! Que os divinos te deem benesses!
Receberei de bom grado o teu filho, conforme me ordenas.
Hei de criá-lo e jamais por descuido da sua babá
Há de um feitiço afligi-lo nem mesmo "o que ceifa por baixo",
Pois sei de antídoto muito mais forte que "o ceifa-madeira",
Sei de excelente resguardo a feitiço de múltiplas dores."
Tendo dessarte falado aceitou-o no peito oloroso
Com suas mãos imortais. Em seu íntimo alegra-se a mãe.
Dessa maneira passou a criar no palácio o brilhante
Filho do arguto Celeu, Demofonte, que de Metaneira
Bem-cinturada nascera. Cresceu como um par dos divinos:
Pão não comia, nem mesmo sugava do leite da mãe,
Visto que ao longo do dia Deméter de bela coroa
Com ambrosia o ungia, qual fosse rebento de um deus,
Tendo-o bem junto do peito e insuflando-o com sopro adoçado;
Mas pela noite encobria-o em chamas, qual fosse um tição,
Sem que seus pais o soubessem. Crescia-lhes como um prodígio,
Tanto precoce cresceu: parecia ser um dos divinos.
E com efeito o teria tornado imortal, sem velhice,
Caso, com insensatez, Metaneira de bela cintura,
Espionando de noite a partir de seu quarto oloroso,
Não os notasse. Mas ela gritou e espalmou suas coxas,
Apavorada por conta do filho e afligida em seu peito,
E lamentando-se então proferiu as palavras aladas:
"Meu Demofonte, a estrangeira com chamas ingentes te encobre
E me coloca em gemidos e preocupações lutuosas!"
Disse dessarte em lamento, e a divina entre as deusas a ouviu.
Colerizada com ela, Deméter de bela coroa,
Tendo tirado do fogo com mãos imortais o menino
Que ela gerara na casa já quando não tinha esperança,
Lança-o no chão, irritada no seu coração sobremodo,
E ao mesmo tempo maldiz Metaneira de bela cintura:
"Néscios humanos! Ineptos em reconhecer a medida
De quanto bem sobrevém para vós tanto quanto do mal!
Tu pela tua insciência causaste incurável ferida!
Saiba-se a jura dos deuses, pela água implacável do Estige,
Pois imortal e também sem velhice, por todos os dias,
Tua criança eu teria tornado, com honra indelével.
Ora não mais poderá se evadir do destino e da morte.
Honra indelével lhe irá persistir para sempre, contudo,
Por ter subido em meu colo e dormido amparado em meus braços.
Ao lhe chegarem as Horas e os anos findando seu curso,
Vede que os filhos de Elêusis com guerras e gritos terríveis
Vão engajar-se uns aos outros, constantes, por todos os dias.
Eu sou Deméter, quem honras detém, geratriz dos maiores
Júbilos para imortais e mortais e também benefícios.
Vamos agora! Que um templo bem grande e um altar logo abaixo
Os cidadãos sob a pólis e as altas muralhas me façam
Sobre o Calícoro, na cumeeira de um monte elevado.
Ritos secretos eu mesma vos ensinarei, que depois
Ao perfazê-los sem mácula ireis alegrar meu sentido."
Tendo assim dito, a deidade alterou sua forma e estatura,
Posta a velhice de lado. Ao redor exalava beleza:
Desde os vestidos fragrantes um amabilíssimo olor
Se dissipava; de longe luzia da derme imortal
Brilho da deusa; dourados cabelos cresciam-lhe aos ombros;
Com o clarão preencheu-se a morada robusta, qual raio.
Foi-se em seguida da casa. Já dela os joelhos vacilam:
Permaneceu muito tempo sem voz, nem sequer do menino
Tardinascido lembrou, de tomá-lo de volta do chão.
Suas irmãs todavia escutando-lhe a voz lamentável
Logo saltaram dos leitos cobertos: então uma delas
Tendo o tomado nas mãos o coloca de junto do peito;
Outra reacende a lareira; e a terceira, com pés delicados,
Logo se apressa em trazer sua mãe do aposento fragrante.
Aglomeradas em torno lavavam-no enquanto chorava,
Dando-lhe muito carinho, mas seu coração não calmava:
Eram piores as aias e as amas que agora o guardavam.
Elas então toda a noite aplacavam a deusa famosa,
Trêmulas pelo terror. No momento em que a Aurora surgiu,
Ao poderoso Celeu infalíveis palavras disseram,
Como mandara a deidade de bela coroa, Deméter.
Ele, depois de chamar para a ágora o povo abundante,
Manda que um templo opulento a Deméter de belos cabelos
Façam, também um altar sobre o cume de um monte elevado.
Eles de pronto escutaram e lhe obedeçaram aos ditos.
Como mandara, fizeram; e o filho cresceu como um nume.
Quando por fim terminaram e deram por feito o trabalho,
Foram-se ao lar, cada qual para o seu, mas a loura Deméter,
Lá se sentando apartada de todos os outros ditosos,
Inda minguava à saudade da filha de funda cintura.
O mais terrível dos anos na terra de farto sustento
Fez para os homens, um ano de cão. As sementes, a terra
Não germinava: ocultava-as a bem-coroada Deméter.
Muitos arados recurvos os bois arrastavam em vão.
Muita cevada brilhante no chão se jogou sem sucesso.
Ela teria arrasado a linhagem dos homens mortais
Pela estiagem terrível, privando das honras famosas
E sacrifícios aqueles que fazem morada no Olimpo,
Zeus não houvesse notado e no espírito então compreendido.
Íris primeiro aurialada enviou para que ela chamasse
A de adorável figura, Deméter de belos cabelos.
Disse. Ela ao mando de Zeus, do Cronida de nuvens escuras,
Obedeceu e cruzou o entremeio com rápidos pés.
Logo chegou à cidade eleusina, fragrante de incenso,
Onde no templo encontrou, com vestido soturno, Deméter,
E lhe falou, proferindo as seguintes palavras aladas:
"Zeus pai te chama, Deméter, o sábio em saberes perenes,
Para que vás à família dos deuses eternossurgentes.
Vai! E que não se descumpra a palavra de Zeus que lhe digo!"
Disse-lhe assim, suplicante, mas seu coração não consente.
Mais uma vez, o pai manda-lhe os deuses ditosos e eternos,
Todos, um deus atrás de outro. Partindo ordenados assim,
Eles chamavam-na e davam presentes venustos e vários
E honras também, tantas quantas pudesse querer entre eternos.
Mas ninguém pôde suadir as entranhas nem o pensamento
Dela iracunda no seu coração: rechaçava os discursos,
Pois prometera jamais ascender para o Olimpo fragrante
Nem enviar para cima, de dentro da terra, a colheita
Antes de ver com seus olhos a filha de belo semblante.
Zeus que ressoa profundo, o de vasta visão, quando o ouviu,
Fez com que o auricetrado argicida para o Érebo fosse:
Que ele falando de perto palavras suaves com Hades
Exconduzisse Perséfone augusta do breu nevoento
Rumo da luz junto aos deuses, a fim de que então sua mãe
Ao contemplá-la com seus próprios olhos cessasse o rancor.
Hermes não desacatou, mas de súbito ao fundo da terra
Ele partiu apressado, baixando do assento do Olimpo.
Logo encontrou o senhor da morada no seu interior,
Em um sofá, reclinado com a pudorosa consorte
Muito contrário à vontade, saudosa da mãe, que à distância
Planos terríveis pensava por atos dos deuses ditosos.
Pondo-se próximo dele, falou-lhe o potente Argicida:
"Hades de negros cabelos, reinante entre os já perecidos,
Zeus pai mandou-me guiar para fora Perséfone augusta
Do Érebo para com eles, a fim de que a mãe, vendo a moça
Com olhos próprios, refreie o rancor e sua cólera horrível
Contra os eternos, pois ela intenciona um ingente trabalho:
Arruinar a impotente família dos homens terrestres
Ao ocultar as sementes na terra, privando das honras
Os imortais. Ela tem um terrível rancor, nem aos deuses
Junta-se, mas no interior de seu templo fragrante, apartada,
Senta-se enquanto retém a cidade rochosa de Elêusis."
Disse dessarte. Sorriu-lhe Edoneu, que entre os ínferos reina,
Com os sobrolhos, mas não descumpriu o comando de Zeus rei,
Pois de imediato ordenou a Perséfone percipiente:
"Vai-te, Perséfone, para tua mãe de vestido soturno,
Tendo uma força gentil em teu peito e no teu coração,
Nem tenhas ódio excessivo demais do que aos outros por mim.
Não te serei um consorte de nada indevido entre eternos,
Visto que sou mesmo irmão de Zeus pai. Quando aqui te encontrares,
Tu serás mestre de todos, de quantos viverem e andarem,
E honras ainda terás entre eternos, maiores que todas.
Dentre os injustos, terá pagamento por todos os dias
Quem não fizer sacrifícios a fim de agradar teu poder,
Feitos sem mácula, todos cumpridos com dons adequados."
Disse dessarte. Sorriu-lhe Perséfone muito prudente
Rapidamente se ergueu de alegria, mas ele, contudo,
Doces sementes lhe deu de romã, que comesse, em segredo,
Sendo cuidoso que não demorasse por todos os dias
Junto de novo a Deméter augusta de peplo soturno.
Os seus cavalos à frente do carro dourado no jugo
Pôs, imortais, Edoneu que exercita o comando de muitos.
Ela subiu para o carro e a seu lado o potente Argicida,
Tendo tomado nas mãos tanto as rédeas quanto o chicote,
Foi-se através do palácio e partiu: seus cavalos voaram.
Atravessaram velozes estradas compridas. Nem mar
Nem mesmo as águas dos rios nem os vales gramados dos montes
Nem as montanhas puderam deter seus cavalos eternos,
Que sobre todos singraram os ares profundos, correndo.
Fê-los parar onde estava Deméter de bela coroa,
Logo de frente do templo fragrante. Quando ela a notou,
Foi-se correndo qual mênade ao longo de um monte silvoso.
Já por seu turno, Perséfone, ao ver os belíssimos olhos
De sua mãe, afastou-se de carro e cavalos num salto
Para alcançá-la e lançou-se-lhe em torno ao pescoço, abraçando-a.
Mas, ao reter sua filha querida no entorno das mãos,
Seu coração desconfia de um dolo e recua em terror.
Logo, cessando o carinho, em discurso lhe fez a pergunta:
"Filha, encontrado-se ao fundo da terra tu não me comeste
De um alimento? Relata e não guardes: que as duas saibamos,
Para que, vinda da tua estadia com Hades horrível,
Possas viver junto a mim e ao Cronida de nuvens escuras,
Tendo honrarias também entre todos os outros eternos.
Mas, se comeste, de novo voltando ao profundo da terra,
Tu morarás por um terço das Horas a cada um dos anos,
E as outras duas ao lado de mim e dos outros eternos.
Mas, quando a terra com flores fragrantes e primaveris
De toda sorte florir, novamente do breu nevoento
Tu voltarás, grande espanto aos divinos e aos homens mortais.
Mas dize como levou para baixo do breu nevoento
E com que dolo raptou-te o potente que tudo retém."
Disse-lhe então em resposta Perséfone muito venusta:
"Eu para ti, minha mãe, vou dizer por completo a verdade.
Quando a mim Hermes chegou, mensageiro veloz que traz sorte,
Para, à presença do Crônida pai e dos outros celestes,
Do Érebo me retirar, que me vendo com teus próprios olhos
Apaziguasses rancor aos eternos e cólera horrível,
Eu, de imediato, saltei de alegria. Mas ele, em segredo,
Doces sementes me deu de romã com que me alimentasse,
E a contragosto por meio de força forçou-me a comê-las.
Como levou-me por sólida astúcia do filho de Cronos,
Meu próprio pai, carregando-me para o profundo da terra,
Eu contarei e direi sobre tudo conforme me pedes.
Todas de fato brincávamos sobre um gramado amorável:
Fano e Leucipo assim como Electra e também Ianté,
Junto a Melite e Iaqué, com Rodeia e Caliroé,
Com Melobósis e Tíque e com Ociroé rosto-em-flor,
E com Criseida, Ianeira, Acaste, e também Admete,
E Rodopé e Plutó e também a amorável Calipso,
E com Estige e Urânia e com Galaxaure adorável,
Junto de Palas guerreira e com Ártemis atiradora,
Todas brincávamos de colher flores amáveis nas mãos,
Entre o açafrão delicado e entre a íris, jacinto também,
Bem como brotos de rosas e lírios, espanto de ver,
E de narciso, que a terra gerava semelho a açafrão.
Tudo eu colhia feliz, mas a terra, por baixo, se abriu:
Dela saltou o senhor poderoso que tudo retém,
Que me levou para baixo da terra em seu carro dourado,
Muito contrário à vontade. Na voz, eu gritei estridores.
Essa, por mais que me doa, te digo ser toda a verdade."
Elas, concordes em ânimo, então, pelo resto do dia,
Muito no seu coração e em seu ânimo se acalentaram
Com calorosos abraços, cessando-se a dor em seu ânimo.
Muita alegria uma a outra ofertava e também recebia.
Aproximou-se-lhes Hécate do diadema esplendente.
Muito abraçou a menina sagrada nascida a Deméter.
Desde esse tempo a senhora lhe foi atendente e ministra.
Zeus de amplo olhar, que ressoa profundo, enviou-lhes de núncio
Reia de belos cabelos, a fim de que à grei dos divinos
Ela levasse Deméter de escuro vestido. Honrarias
Lhe prometeu, quais pudesse querer entre os deuses eternos,
E concordou que sua filha demore, por cada um dos anos,
Uma das tríplices partes abaixo do breu nevoento
E as outras duas ao lado da mãe e dos outros eternos.
Disse e a deidade não desacatou as mensagens de Zeus.
Rapidamente, lançou-se voando dos picos do Olimpo.
Logo chegou até Rário, nutriz, a mais rica das terras
Antes, porém nesse tempo não era nutriz, mas inerte,
Toda sem folhas. A branca cevada encontrava-se oculta:
Plano que foi de Deméter de esguios tornozelos. Contudo,
Logo se iria cobrir com espigas compridas de milhos,
Ao florescer da estação, e os opíparos sulcos da terra
Logo estariam repletos de grãos e de feixes de espigas.
Lá sobreveio primeiro partindo do éter infértil.
Mutuamente se viram, contentes, com ânimo alegre.
Reia com seu diadema esplendente lhe disse o seguinte:
"Vamos, filhinha, que Zeus de amplo olhar, que ressoa profundo,
Chama-te junto da grei dos divinos. Também honrarias
Lhe prometeu, quais puderes querer entre os deuses eternos
E concordou que tua filha demore, por cada um dos anos,
Uma das tríplices partes abaixo do breu nevoento
E as outras duas ao lado da mãe e dos outros eternos.
Disse cumprir-se dessarte e assentiu com a sua cabeça.
Vem, minha filha! Obedece o que digo! De modo excessivo,
Não te enfureças mais com o Cronida de nuvens escuras.
Faz com que cresçam os frutos nutrizes de pronto aos humanos."
Disse, e Deméter de bela coroa não desobedece.
Logo ela fez despontarem os frutos nos férteis terrenos.
Toda com folhas e flores também a vastíssima terra
Se carregou. Em seguida, indo aos reis que ministram as leis,
Ela mostrou a Triptólemo e para Diócles ginete
E para a força de Eumolpo e a Celeu, comandante de povos,
A liturgia dos ritos e a todos também os mistérios.
Mas, para força de Eumolpo e a Celeu e também a Diócles,
Deu ritos sacros, que não se transgridem nem mesmo se aprendem,
Nem se proferem, pois grande respeito aos divinos os cala.
Próspero é aquele que os viu entre os homens que vivem na terra;
Mas incompleto quem não participa dos ritos, nem nunca
Tem bom destino morrendo, debaixo do breu nevoento.
Logo depois, quando tudo perfez a divina entre os deusas,
Foi-se a caminho do Olimpo ao encontro dos outros divinos,
Onde demoram do lado de Zeus que se apraz com trovões,
E junto à augusta e sagrada. Muitíssimo próspero é quem
Eles solícitos amam, dos homens que vivem na terra.
Logo lhe enviam ao fogo do lar no seu grande palácio
Pluto, que ao homens mortais oferece abundância e riqueza.
Mas vamos lá, portadora da terra fragrante eleusina,
Paros marinha e a rochosa cidade de Antrona também,
Dona que cedes a luz, que conduz as sazões, Deo rainha,
Tu e também tua filha Perséfone, muito venusta,
Pela canção, meu sustento agradável, solícitas, manda!
Ora de ti eu irei me lembrar e de uma outra canção!